quarta-feira, 3 de março de 2010

No Rio, área de vila olímpica pode virar "formigueiro"

Problemas se aproximam. A ordem é invertida. Primeiro adensa-se, aumenta-se o potencial construtivo e depois chega a infra-estrutura em local ambientalmente sensível. A pergunta permanece: como essas pessas vão se deslocar nas Vargens? Ao que tudo indica haverá um congestionamento de canoas durante o verão...

Folha de São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

No Rio, área de vila olímpica pode virar "formigueiro"
População da região, que inclui parte da Barra, iria de 60 mil para 1,4 milhão

Estudo da PUC-Rio prevê uma explosão demográfica; região da zona oeste, que inclui a Barra, é vista como ambientalmente sensível

Italo Nogueira da Sucursal do Rio

Bairros no entorno da principal área da Olimpíada do Rio, em 2016, podem atingir níveis de adensamento semelhantes aos de Copacabana e Catete, os mais povoados da cidade. A região, que tinha em 2000 cerca de 60 mil habitantes, pode chegar a 1,4 milhão.
A projeção foi feita em estudo do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio entregue ao Ministério Público estadual. Ela apresenta os riscos de adensar uma área de brejos considerada ambientalmente sensível pela prefeitura.
O estudo avalia o impacto da alteração do PEU das Vargens (Projeto de Estruturação Urbana de Vargem Grande e Pequena, Camorim e parte do Recreio dos Bandeirantes e da Barra da Tijuca), na zona oeste. A área inclui o parque olímpico onde ficarão 45% dos Jogos de 2016 e a vila olímpica dos atletas.
A região sofre há três décadas com ocupações irregulares. Após o crescimento e o esgotamento da Barra, a área das Vargens é a principal de interesse de imobiliárias. A infraestrutura, no entanto, não acompanhou o crescimento. Boa parte do esgoto não tem tratamento e polui a lagoa de Jacarepaguá.
A lei aumentou o gabarito e diminuiu a permeabilidade dos novos prédios residenciais da área. Ela possibilita ainda pagar por mais potencial construtivo, por meio de outorga onerosa.
A arrecadação por esse instrumento vai financiar obras na região prometidas ao Comitê Olímpico Internacional, como a construção da Transcarioca (via de ligação Barra-zona norte) e de infraestrutura.
O PEU das Vargens dividiu a área de cerca de 5.300 hectares. Segundo análise do urbanista Leo Name, algumas subdivisões superam a densidade de Catete (422,3 hab/ha) e Copacabana (389,5 hab/ha). Numa subdivisão, chegaria a 535,5 habitantes por hectare.
Name aponta que, se todo o potencial construtivo for aproveitado, a população do local chegará a 1,4 milhão de pessoas. Caso seja usado apenas o gabarito autorizado sem outorga onerosa, 752 mil habitantes.

Infraestrutura
O adensamento da região afeta, segundo o estudo, a bacia de Jacarepaguá, composta por áreas alagadiças que interligam rios e lagunas. O crescimento pode provocar alagamentos em caso de chuvas, pela queda da permeabilidade do solo.
Segundo o IBGE, os bairros da região tinham em 2000 densidades abaixo de 20 habitantes por hectare. No cálculo de Name, podem chegar a 264,3 habitantes se o todo potencial construtivo for utilizado.
As novas regras para área vão formalizar a ocupação da região, afirmou a Secretaria Municipal de Urbanismo. O órgão disse que as obras de infraestrutura reduzirão o impacto da ocupação nos bairros.
"O importante é entender os vetores de desenvolvimento da cidade e prepará-la para isso, dotando de infraestrutura de abastecimento, saneamento, acessibilidade e transporte."

Infraestrutura reduz impacto, diz prefeitura
Italo Nogueira da Sucursal do Rio

As novas regras para área no entorno do futuro parque olímpico, na zona oeste do Rio, vão formalizar a ocupação da região, afirmou a Secretaria Municipal de Urbanismo.
O órgão disse que as obras de infraestrutura reduzirão o impacto da ocupação nos bairros.
"O importante é entender os vetores de desenvolvimento da cidade e prepará-la para isso, dotando de infraestrutura de abastecimento, saneamento, acessibilidade e transporte", disse a secretaria por e-mail.
"Uma região que crescia somente com construções irregulares não merece ficar sem legislação. O PEU é um instrumento que vai possibilitar a formalidade e a regularização dessa importante região do Rio", afirma a secretaria.
A pasta afirmou ainda que o adensamento da região será compensado com investimentos na infraestrutura, financiados pela compra de potencial construtivo por meio de imobiliárias.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2802201013.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2802201014.htm

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