quarta-feira, 28 de abril de 2010

Região da Rua Funchal tem mais helipontos que pontos de ônibus

Mais um bom exemplo do que a falta de planejamento urbano com alternativas para transporte de massa pode gerar para a cidade.  Quem pode anda de helicoptero! Quem não pode, se vira para chegar de qualquer jeito!



http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1309200916.htm

São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009


Trecho de comércio e escritórios na Vila Olímpia, formado por 10 vias, reúne 25 helipontos e 24 paradas de transporte coletivo

Na avaliação de técnicos, cenário mostra falta de planejamento urbano com a expansão da área a partir da década de 1990
Alencar Izidoro da Reportagem Local
Vista de cima, a pintura azul no telhado dos espigões sinaliza aquela que é a principal concentração de helipontos num pequeno pedaço de São Paulo.

Embaixo, a movimentação é intensa para acessar esse trecho nobre da Vila Olímpia (zona oeste), nas imediações da rua Funchal, mas a infraestrutura do transporte terrestre deixa a desejar. As vias são estreitas para os carros, que enfrentam congestionamentos até nas garagens; os ônibus, às vezes distantes, não atraem.

Forma-se, assim, um cenário exótico: a quantidade de 25 helipontos é maior que a dos 24 pontos de ônibus nesse miolo de comércio e escritórios da Vila Olímpia, formado por dez vias.

O levantamento da Folha, feito a partir de registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e da SPTrans (empresa de transporte da prefeitura), reforça as conclusões de outro mapeamento preparado por técnicos municipais em parte do eixo empresarial da Faria Lima à Berrini.

Este identificou por imagens de satélite 75 helipontos numa região que abriga 60 paradas de ônibus -sem contar "pontos gêmeos", nos dois lados da rua.

Em ambos os casos, trata-se de uma constatação apenas simbólica, sem rigor científico.

Mas a peculiaridade da infraestrutura do transporte terrestre e aéreo nas imediações da Vila Olímpia serve, na avaliação de técnicos, como exemplo da falta de planejamento urbano com a expansão da área a partir da década de 1990.

Um dos motivos para a região ter tantos helipontos é que ela concentra edifícios novos e modernos -frequentados por uma elite empresarial que, por minoria da minoria que seja, já aderiu ou pretende aderir ao transporte aéreo urbano.

Essa condição resulta em malabarismo no controle de voo para evitar conflitos com aviões da rota de Congonhas. E, para reunir helipontos sem burlar a norma que fixa a distância mínima de 400 m entre eles, de novo é preciso malabarismo.

De outro lado, embora a prefeitura diga que há 22 linhas de ônibus passando em alguma parte do bairro, não há conexão rápida de transporte coletivo para regiões estratégicas, como a central ou a da Paulista. E a linha metroferroviária mais próxima, a 9-Esmeralda da CPTM, leva os usuários a trechos mais periféricos (Osasco-Grajaú).

"Os polos empresariais não são decididos por quem vai trabalhar lá. A Berrini ficava longe de tudo, mas perto de onde os donos das empresas moravam ou gostariam de morar. Hoje tudo é definido pela conveniência da cúpula. Se ela, por pequena que seja, começa a adotar um meio de transporte exótico, como por helicóptero, as coisas fogem ainda mais de controle", diz Cláudio Senna Frederico, engenheiro e ex-secretário dos Transportes Metropolitanos.

Região cresceu sem alternativa ao carro, dizem técnicos
da Reportagem Local

Técnicos dizem que as deficiências do transporte coletivo no eixo empresarial das imediações da Vila Olímpia, Berrini e Faria Lima são resultado da falta de planejamento urbano.

Ao longo dos anos, foi liberada a verticalização da área sem prever nenhuma alternativa eficiente ao transporte individual -e com uma malha viária limitada para os automóveis.

Não é à toa, dizem, que a região se tornou a principal referência para os ônibus fretados -que foram alvo de restrições da prefeitura no final de julho.

A gestão Gilberto Kassab (DEM) flexibilizou a proibição ao fretamento na Berrini com a justificativa de que a região não tem metrô. Mas ainda é alvo de protestos de passageiros da Vila Olímpia e da Faria Lima, que alegam também não ter essa opção da rede sobre trilhos. A prefeitura criou 11 linhas de ônibus para compensar a restrição.

Mas especialistas avaliam que os problemas nas imediações da Vila Olímpia não têm como ser resolvidos com mais linhas ou mais ônibus.

"Não adianta colocar mais ônibus, para que fiquem parados no trânsito", diz Jaime Waisman, professor da USP, para quem a solução é buscar integrações com a rede sobre trilhos. Por exemplo, com micro-ônibus para levar a linhas de metrô, como a 5-lilás (que será integrada à 1-azul e à 2-verde).

Horácio Augusto Figueira, mestre em engenharia pela USP, cita como alternativa a criação de um corredor de ônibus na avenida Juscelino Kubitschek, que chegaria à região central com mais rapidez.

"Ali é como um estádio de futebol linear. São torres onde trabalham milhares de pessoas. Não dá para escoar essa demanda com automóvel", diz.

Embora a versão oficial da prefeitura negue, técnicos da SPTrans reconhecem os problemas. É por isso que escolheram a Vila Olímpia para receber um trecho do monotrilho (metrô leve em vias elevadas). Na avaliação deles, a região, por abrigar um público de renda mais elevada, poderia ser atraída por esse transporte. O problema é a falta de prazo para sair do papel. (AI)

Ônibus são suficientes para a demanda, afirma secretaria
da Reportagem Local
A Secretaria dos Transportes não quis dar entrevista nem comentar as informações mapeadas pela Folha e por técnicos municipais, mas informou que os ônibus nas imediações da Vila Olímpia são suficientes para atender à demanda.

Segundo a pasta, os usuários da região são atendidos por 22 linhas e 900 ônibus circulam na região do Brooklin e do Itaim Bibi nos picos da manhã.

A secretaria afirma que, dentre as ruas com maior quantidade de ônibus, a Funchal recebe até 142 ônibus por hora. Nessa via há três pontos de ônibus, segundo a SPTrans, contra cinco helipontos, diz a Anac.

A pasta não informou a quantidade exata de pontos de ônibus em toda a Vila Olímpia.

Mas, além do miolo empresarial de dez ruas no eixo da Funchal (nas quais seis têm passagem de ônibus), deu informações de outras 32 vias da região (que reúnem 25 pontos).

Os eventuais problemas no tráfego aéreo pela concentração de helipontos são negados pelas autoridades da aviação.

A Anac diz que as operações das aeronaves são controladas por um departamento da Aeronáutica para que tenham níveis de segurança adequados.

Afirma que a exigência de 400 metros de distância entre os helipontos é liberada para casos em que há desnível entre eles -e que, por isso, há helipontos vizinhos na cidade. (AI)

Só 40% dos helipontos em SP receberam aval da prefeitura

Até 2008, agência federal de aviação liberava projeto sem consultar município
da Reportagem Local

A concentração dos helipontos nas imediações da Vila Olímpia é reveladora da desordem histórica na expansão dessa estrutura aérea na capital.

Tanto que só dez helipontos da região são aprovados pela prefeitura. E, dos 215 autorizados pela Anac, só 85 (40%) passaram por aval do município.

O motivo disso é que a agência federal da aviação liberava as pistas para os helicópteros sem requerer ao proprietário a autorização da municipalidade.

A Anac afirma que essa prática mudou a partir de 2008 -tanto que, neste ano, nenhum heliponto foi aprovado ainda (há sete pedidos sob análise).

A prefeitura chegou a prometer um projeto de lei para ordenar os helipontos na capital paulista ainda em 2007. Após ser submetido a consulta pública, fixava, por exemplo, uma distância mínima de 400 metros entre helipontos. Mas ele não saiu do papel até hoje.

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, neste ano houve uma consulta à Secretaria de Negócios Jurídicos e a proposta voltou à pasta para ser analisada antes de ser encaminhada à Câmara Municipal.

"É um absurdo desvincular a utilização do espaço aéreo do uso e ocupação do solo. O impacto é direto, principalmente devido ao barulho", afirma Márcia Vairoletti, do Movimento Defenda São Paulo.

A frota de helicópteros registrada na capital paulista é hoje de 325. A quantidade de pousos e decolagens, segundo a Aeronáutica, passa de 200 por dia. Mas ela não detalha especificamente a movimentação nas imediações da Vila Olímpia, onde, conforme relatam pilotos, frequentemente há tensão no controle de voo para evitar conflitos com aeronaves na rota do aeroporto de Congonhas.

A professora Valquíria Figueiredo, 62, moradora da Vila Olímpia, sofre tanto com os helicópteros como com as deficiências no transporte. "Às vezes tenho que parar a aula no meio para esperar. O barulho é absurdo", relata ela, que trabalha no vizinho Itaim Bibi.

Aos sábados, para repor as aulas que ficaram suspensas devido à gripe suína, ela pena com a suspensão de sua linha de ônibus para chegar ao serviço -a 6401, Estação da Luz-Vila Olímpia, que não funciona aos finais de semana. Resta a Valquíria a opção de caminhar um quilômetro ou pegar duas conduções.

Um comentário:

  1. Realmente SP está cada vez mais um caos no transito. Sim temos soluções: contruir corredores de onibus nas principais vias de SP e aumentar as linhas de metro por toda a extensão de sp ligando com os trens e bairros onde onibus nao conseguem chegar. Verba para isso tem de monte!! So falta iniciativa do governo em melhorar o transporte na cidade, pois percebe-se de longe que o transito fica cada vez pior. Sou totalmente a favor de linhas de metro como as de Paris em SP. totalmente necessario!! corredores de onibus podem ajudar sim!! ja q nao se pode conter o crescimento de veículos. Espero q isso seja feito o qnto antes!! Nao da mais pra esperar!!

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