Essa noticia é antiga (23/12/2007) porém o projeto do aeroporto ainda não foi abortado e continua provocando diversos protestos (vide o abaixo- assinado em http://www.facebook.com/group.php?gid=8334668106). Esse tambem é um caso clássico de impactos que uma infra-estrutura de transporte, no caso o aeroporto, pode provocar em áreas sensíveis como Siena. Será que esse patrimônio histórico irá suportar quantidades de visitantes maiores com essa facilidade de acesso?
23/12/2007
De Elisabetta Povoledo
Em Siena, Itália
Os planos para trazer a cidade histórica italiana de Siena para a era dos jatos, com a ampliação de seu pequeno aeroporto, estão sendo contestados por um grupo de cidadãos que dizem que Siena está "muito bem do jeito que está, obrigado".
A última coisa que estes moradores parecem querer é o meio milhão de turistas adicionais que os defensores do aeroporto prevêem que pousariam em Siena em 2020. O turismo já está prosperando, argumentam os contrários, com mais de um milhão de visitantes chegando anualmente por terra, muitos atraídos pela ação da colorida Pálio, a corrida de cavalos de Siena.
Eles não querem a construção de novos terminais, estacionamentos e infra-estrutura para atender à maior capacidade do aeroporto, e temem que mais turistas apenas levariam a mais empreendimentos de grande escala, como shoppings ou redes de hotéis. Eles também temem o barulho, poluição e o impacto que o aeroporto teria sobre os arredores, uma mistura de igrejas medievais, castelos e vilarejos aninhados dentro de reservas naturais, florestas e fazendas.
O progresso não pode ser medido apenas em termos de aumento do produto interno bruto, disse Luciano Fiordoni, um economista que falou em um recente comício "antiaeroporto" em Siena.
"É preciso considerar a qualidade de vida", ele disse. "Não somos contrários ao crescimento, mas nossa principal intenção é permanecer humanos."
Mas para o atual conselho administrativo do aeroporto Ampugnano as alternativas são simples: crescer ou jogar a toalha.
Construído nos anos 30 como campo de aviação militar para as tropas de Mussolini, o aeroporto se tornou civil há poucos anos e tem perdido dinheiro desde então -entre 500 mil e 800 mil euros por ano-, segundo o presidente do conselho, Enzo Viani.
"Era impensável pensar que poderia continuar perdendo dinheiro", ele disse por telefone. "Tínhamos que tomar uma decisão."
Tal decisão foi uma licitação pública para um projeto de ampliação do aeroporto, que foi vencida no início deste ano pelo Galaxy Fund, um fundo de ações dedicado a infra-estrutura de transporte e cujos investidores centrais são o grupo francês Caisse des Dépôts, o italiano Cassa Depositi e Prestiti e o banco público de desenvolvimento alemão Kreditanstalt fuer Wiederaufbau. O Banco de Investimento Europeu também é um dos co-investidores do Galaxy.
Com o investimento do Galaxy de 50 milhões de euros e 30 milhões de euros adicionais fornecidos pelos atuais acionistas do aeroporto -a prefeitura de Siena e o governo provincial, sua câmara de comércio, a municipalidade de Sovicille e o banco Monte dei Paschi di Siena local- o aeroporto se tornaria lucrativo, disse Viani.
O investimento basicamente asseguraria que a pista poderia ser usada em toda sua extensão, 1.500 metros, permitindo que aviões de porte médio com capacidade entre 30 e 80 passageiros pudessem operar em segurança. Jatos executivos e aviões pequenos são atualmente os principais clientes do aeroporto.
O projeto ainda não foi formalmente adotado, já que os administradores locais ainda estão analisando as conclusões dos estudos de impacto ambiental e o sentimento dos cidadãos locais, disse Viani.
O Galaxy projeta que o aeroporto ampliado receberia vôos de 15 destinos -a maioria capitais européias- em 2009. O afluxo de turistas passaria de quase 150 mil em 2009 para cerca de 330 mil em 2012.
Mas nem todos gostam disso.
"Eu acho que a administração vê isso como uma questão de status, que um aeroporto colocaria Siena no mapa, mas Siena é o que é porque nunca esteve na estrada principal", disse Helen Ampt, uma moradora de Montagnala Sienese, uma área montanhosa a oeste de Siena, e membro do comitê que combate à ampliação.
"Esta área tem uma história de comitês de protesto", ela notou, citando várias cruzadas ambientais anteriores contra excesso de pedreiras ou torres de alta tensão, por exemplo. "Mas este é o maior comitê de todos."
Como outros, Ampt se pergunta se o dinheiro não seria melhor gasto melhorando a ferrovia antiquada de Siena e as estradas próximas; não há uma rodovia que leve até a cidade.
E a Toscana já conta com dois aeroportos: em 2006, Pisa contou com cerca de três milhões de passageiros e Florença com metade disto, e ela apontou que outro em Grosseto está em desenvolvimento.
Os críticos temem que um aeroporto modernizado apenas abriria as portas para uma avalanche de vôos baratos e uma avalanche de turistas. Além disso, o imperativo do Galaxy de lucrar -ele é um fundo de investimento- poderia forçar o aeroporto a crescer ainda mais do que o previsto no projeto original.
"Será que eles acham que ficaríamos contentes com um aeroporto não destinado para nós?", perguntou Fabio Marzini, um bancário aposentado que virou fazendeiro.
"E assim que todos esses turistas chegarem, para onde irão?" acrescentou Simona, a filha de Marzini. O turismo aqui é voltado para estadias em casas de fazenda e o ritmo tranqüilo do campo. "Nós não queremos que se transforme em um parque de diversões", ela disse.
Muitos manifestantes disseram se sentir traídos pelo governo de centro esquerda da cidade, que tradicionalmente defendia a área contra um desenvolvimento exagerado, e pelo Monte dei Paschi di Siena, que diz ser o banco mais antigo da Itália e por séculos foi uma força motriz da economia local.
"Como um banco com tamanha ligação local pode desejar fazer algo que devastará a paisagem rural?" perguntou Maria Rosa Mariani, uma advogada e membro do comitê. Ela disse esperar que os administradores "recobrem o juízo" e comecem a se perguntarem sobre "como isto afetará a região".
Viani insiste que a transformação de Ampugnano será "boa para a região", e que o aeroporto está interessado apenas em atrair "turismo de alta classe", não vôos baratos.
"Grandes aeroportos têm um impacto sobre as pessoas, de forma que quanto menor, melhor", disse Enrico Diciotti, um professor de Direito da Universidade de Siena. Ele disse que milhares vêm anualmente para desfrutar da natureza preservada da região. "Nós herdamos um recurso", ele disse, "que achamos que deve ser legado para a posteridade".
Tradução: George El Khouri Andolfatohttp://noticias.uol.com.br/midiaglobal/outros/2007/12/23/ult586u539.jhtm
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